Promotor
Associação Zé dos Bois
Breve Introdução
Música fora da sua época ou simplesmente não assente em tempo algum. Enquanto co-fundador do coletivo canadiano Mood Hut, Jack J tem demonstrado um tremendo entusiasmo em redor da imensa mina boogie, deep house, soft rock ou synth pop que as décadas de 70s e 80s foram prolíferas. A infusão sonora é tão heterógena quanto soa; a forma desinibida e descomprometida com que se move entre coordenadas não é menos que libertadora. Ao lado de Liam Butler, formam os incontornáveis Pender Street Steppers. Eternas vibes funky em que os aromas de naftalina e a erva se fundem entre batidas secas, sintetizadores planantes e aparições de cowbells processadas em reverbs espaciais. Mas a curiosidade aguça-se ao entrar nos discos a solo de Jack Jutson; esses, e tantos outros elementos, pairam em composições cuja voz do próprio surge como guia melódico em realidades paralelas próximas às imaginadas por Arthur Russell, George Clinton ou Larry Levan.
Se o álbum de 2022 Opening the Door trouxe mais foco na estrutura tradicional de canção, talvez mais pop que nunca, também é verdade que revelou desejo de descer momentaneamente dos céus para experienciar as inquietudes metafísicas. Cósmico na viagem, terrestre na emoção, esta canalização de intenções tomou forma maior em Blue Desert. Levemente melancólico, mas de olhos postos no pôr do sol que apazigua, é um disco que traz uma brisa marítima inesperada. Distancia-se, com consciência e escolha, da sinestesia inicial presente nos discos anteriores, ou pelo menos, já não de forma tão imediata. Sente-se, contudo, uma certa qualidade onírica que distorce com doçura as paisagens que se experienciam numa escuta sempre envolvente - e genuinamente confessional. Por momentos há quase ecos de uma folk. Estar sem lá estar. É, pois, nestas ínfimas perceções que Jack J extrai substância e inovação para o seu cancioneiro do século XXI.
Abertura de Portas
20:30
Preços